Romance por Pepetela
Idioma: PortuguêsPaís: Angola
Assunto: Guerra de Independência de Angola
Lançamento: 1980
"Mayombe" do Pepetela, é muito interessante, trata de temas como comunismo, organização social, revoltas... e foi escrito por um Angolano.
Dica para Leitura
Uma técnica de ler 5% do livro todos os dias.
O livro tem 244 páginas, se fôssemos ler ele por completo em apenas 15 dias, teríamos que ler 16 páginas por dia. (6,7% por dia). Se dividirmos em duas partes teríamos que ler na primeira e segunda quinzena 8 páginas por dia.
Podcast
Pepetela – “Mayombe” - https://open.spotify.com/episode/607CnHS0nm6VR3rUHFcPyX?si=hFyhoULdSbi7UxLIzxnmhg
O que o livro traz?
“Talvez é não para quem quer ouvir sim e significa sim para quem quer ouvir um não”, de acordo com “Teoria”, então, “talvez” você goste desse livro.
A leitura é fácil e fluída depois que você se acostuma com os nomes das personagens (comece a ler e vai me entender), principalmente por ser majoritariamente dialogado.
O livro já se abre levando o leitor a uma reflexão sobre os motivos ocultos e os reais motivos de suas ações? Qual o verdadeiro motivo para você fazer algo? Aliás, creio que esse se mostre um potencial do que poderíamos intitular “Protagonista” ele, “talvez”, saiba os seus motivos de fato.
A comparação inicial com uma tragédia não é de todo exagerado, como o leitor poderá perceber.
Contrário a algo que se possa imaginar pela frase “Aqui só a guerra politiza” a grande ação do livro acontece no mundo das ideias sendo esporadicamente interrompida por um fato do mundo real.
Isso permite que o autor explore vários temas, ideias e ideais. Como a dicotomia entre os atos e os discursos, o que se faz, o que se pensa e o que se diz.
“Por que é que os padres, tão puros, tão castos, tão bondosos e tão santos, que nos preparavam para servir Deus, para merecer Deus, prometendo-nos as delícias da vida celestial, nos faziam a vida negra no Seminário, eram tão arbitrários, tão cruéis, tão sádicos, nos tormentos que inventavam em nossa intenção”
“Mas podes ter a certeza de que todos tem medo, o problema é que os intelectuais o exageram, dando-lhe demasiada importância.”
“Queremos transformar o mundo e somos incapazes de transformar a nós próprios.”
“Estes jovens vêm todos da Europa com a ideia que o estudo teórico do marxismo é uma poção mágica que os fará ser perfeitos na prática.”
“Todo sentimento irracionaliza e, por isso, incapacita a ação.”
Quase me calei neste ponto sobre um tema recorrente aos livros que temos lido, porém mais saliente neste, a precepção da religião como forma de controle em seu sentido de doutrina.
Cabe aqui dizer que “dicotomia” poderia ser um subtítulo ou prefácio. Toda obra trata disso, consegue abordar aspectos cotidianos a fim de criar catarse e trazer esse desequilíbrio, ou a intenção de uma reflexão sobre o equilíbrio dentro dos temas, como o amadurecimento.
“A partir daí compreendi que não são os golpes sofridos que doem, é o sentimento da derrota ou de que se foi covarde”
“É isso que é estúpido: agir no presente pressupondo o futuro incerto. Nunca se deve agir em função do futuro. Mas quem não o faz?”
A importância da Educação e sua presença e importância na formação da sociedade.
“Há aí uns que querem ser diretores, chefes de não sei o quê, comandantes... Esses estudam. Eu não quero ser chefe.”
“- Há camaradas que estudam só para subirem, isso é verdade. Mas não podes dizer que são todos. Há outros que querem a verdadeiramente ser úteis, ou que querem aprender pelo prazer de aprender.
- Thá! – disse Lutamos – Não acredito. Todos querem é subir ou viver melhor ou mandar.
- Nem todos, nem todos. É certo que uma pessoa que se aperfeiçoa está a pensar no seu futuro pessoal também, está a calcular que assim poderá viver melhor. Mas há aqueles que só pensam nisso e os outros, que pensam mais no bem do povo.”
“As pessoas devem estudar, pois é a única maneira de poderem pensar sobre tudo com a sua cabeça e não com a cabeça dos outros. (...) Se não percebe as palavras que pronuncio, como podes saber se estou a falar bem ou não? Terás que perguntar a outro. Dependes de outro, não és livre. (...) o objetivo principal duma verdadeira Revolução é fazer toda a gente estudar.”
Inclui, obviamente, a má política, diferente daquela em se se há um olha para a “Pólis”.
“Não digas pois que te sujeitarias à opinião da massa, se sabes perfeitamente que poses influenciar essa massa.”
“Numa revolução, há os que vivem para ela e os que vivem dela.”
“E não atires homens grandes a discussão, só para meter medo aos outros e dar forças aos teus argumentos. Isso é truque de político!”
E, assim, ainda dialoga com o leitor sobre a existência dos ídolos, a necessidade da sociedade por seus “Super-homens”, inclusive retratada no suposto protagonista.
“Este fez uma ideia superior de você Vewê, que ousava desafiara, e ficou desiludido, ao verificar que a ousadia de Vewê era fruto apenas duma aposta. Reagiu pessoalmente, subjetivamente, ofendido por que a ideia que fizera de Vewê era falsa. Não foi Vewê que o desiludiu, foi ele que se iludiu sobre Vewê.”
Permeia o romance e o “amor romântico” dentro do cotidiano que apresenta, com todos os seus percalços e preconceitos. Creio que um mecanismo para levar o leitor a catar-se.
“A lucidez não significa frieza no amor. Podes ser espontâneo e lúcido.”
“Se uma pessoa se mostra toda ao outro, o interesse da descoberta desaparece.”
Também traz o tema, ou questionamento, que permeou a as três últimas leituras desse clube e na minha opinião a questão fundamental levantada até agora: “Estamos caminhando para o comunismo ou para o fortalecimento do capitalismo?”
“Para que servirão séculos ou milénios de economia individual, senão para construir homens egoístas?”
“Os homens serão prisioneiros das estruturas que terão criado.”
Novamente a diferença gritante entre prática e pensar, mesmo que o livro aconteça mais no pensar, são as práticas nele os pontos de ruptura e reflexão.
“- A receita prática? Não ta posso dar. É como o marxismo. Serve de guia, de inspirador para a ação, mas não te resolve os problemas práticos...”
“Felizes os que creem no absoluto, é deles a tranquilidade de espírito!”
“Não se pode estabelecer leis universais”
Resgatando um conceito que já dialogamos, o “conto da caverna”, seria o nosso mundo do tamanho daquilo que conhecemos?
Uma característica interessante é que os temas são consistentes e cíclicos, permeiam a obra, inclusive com frases inteiras repetidas e várias pequenas tramas desenvolvidas, sobre cada um deles.
Além claro de impor sim uma conduta ética irrepreensível em “entre linhas”, como o perdão do trocadilho, ou mais escrachada em muitas falas como abaixo, aqui já construindo um mito do seu próprio “Super-homem”:
“Eu não posso manipular os homens, respeito-os demasiado como indivíduos.”
Um “Super-homem” necessariamente falho para que se possa conduzir a leitura de uma tragédia, como o suposto em seu início.
Autores:
Davi Fontebasso Marques de Almeida
Leo
Marcos Vinicius
Fontes:
Marca Texto. Pepetela – “Mayombe”. Disponível em: https://open.spotify.com/episode/607CnHS0nm6VR3rUHFcPyX?si=hFyhoULdSbi7UxLIzxnmhg. Jun.2019. Acessado em 06.ago.2020.
Pepetela. Mayombe. São Paulo: LeYa, 2019.
Pepetela. Mayombe. São Paulo: LeYa, 2019.
Wikipédia. Mayombe (romance). Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Mayombe_(romance). Acessado em 26.jul.2020.
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