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Vidas Secas e o Brasil das Vidas Secas

O livro relata a história de uma família que vive no sertão e sonha com a cidade grande. O autor de forma brilhante narra todo o sofrimento e angústia que os personagens enfrentam durante a seca. Um fator que chama a atenção é a comunicação limitada dos personagens principais. É evidente que isso ocorre devido à baixa educação (uma realidade no Brasil), que acredito que o autor quis deixar isso bem claro no livro.
Um fator que me marcou muito durante a leitura é que o autor não deu nome aos filhos de Fabiano e Sinha Vitória, sempre são retratados como o menino mais velho e o menino mais novo. A interpretação que tirei dessa forma de descrição dos filhos é que os filhos são propriedades dos pais e não um ser. Melhor dizendo, antes deles serem quem são, são filhos de Fabiano e Sinha Vitória.
O personagem mais famoso e aparentemente mais preferidos pelos leitores da Vidas Secas, a cachorra com o nome Baleia, na minha interpretação era a projeção humana na visão de um cachorro. O texto final do capítulo Baleia, no qual, o autor narra o que Baleia sonhara é muito marcante e profundo. Foi como a representação do sonho de um povo por tempos mais brandos e com menos sofrimento, esperando o momento de sua libertação.
E para finalizar e criando um paralelo com o momento atual, a desigualdade social é um fator real no Brasil, estamos entre os países mais desiguais do mundo¹. E o livro Vidas Secas apesar de ser um romance publicado em 1938 ainda diz muito sobre o Brasil moderno. Diz muito sobre um povo que enfrenta de alguma forma a face mais cruel da vida que é a miséria. E sofre com a antipatia de seus irmãos de pátria.

Referências
¹ Organização das Nações Unidas (ONU). Brasil está entre os cinco países mais desiguais, diz estudo de centro da ONU. 2018 Disponível em: https://nacoesunidas.org/brasil-esta-entre-os-cinco-paises-mais-desiguais-diz-estudo-de-centro-da-onu/
RAMOS, Graciliano. Vidas secas. Editorial Norma, 2003.

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