O livro traz a história ou Aventura
de um grupo de guerrilheiros pertencente ao MPLA (Movimento Popular de Libertação
da Angola) que intentam destruir a base chamada Pau Caído que pertencem aos
Tugas (Portugueses) e assim tornar Angola livre dos colonialistas opressores. Há
também romance e suas contradições a medida que a trama avança na história do
grupo revolucionário.
O que me incomodou no começo da
leitura mas depois eu me acostumei foram com os nomes dos personagens, depois
eu entendi que na verdade eram codinomes. E o autor não fez a questão de
revelar o nome de todos, bem que ele poderia, mas não o fez. Eu vou listar os
nomes porque achei bem interessante. O Comandante é o Sem Medo o guerrilheiro
de Henda (praticamente o personagem principal da história), Comissário que se
chama João, Chefe das Operações, Teoria que é o Professor, Verdade, Lutamos,
Muatiânvua, Milagre, Ekukui, Mundo Novo, Ingratidão, Leli noiva do Sem Medo,
Vewê o cágado, André, Ondina ex-noiva do comissário ou noiva, o comissário
político e outros que não me recordo.
O que achei interessante na obra
do autor é que por meio do personagem Sem Medo, faz uma crítica ácida ao
caudilhismo, endeusamento, culto à personalidade [destacando que isso é
característica de países subdesenvolvido] e a ascensão do proletário a frente
de um partido. Expõe que há uma demagogia quando dizem que o proletariado tomará
o poder. Na opinião de Sem Medo, para se tomar o poder é preciso formação
política e cultural, e concluí que o operário que chega ao poder passou anos
estudando e ao fazer isso deixa de ser proletário e se torna um intelectual. E se
põe contra a ideia de que um partido que é, na realidade, dominado por
intelectuais é dominado por proletariado. Conclui a reflexão dizendo que na
verdade quem domina um partido são os intelectuais revolucionários.
O triângulo amoroso ou o quadrado
amoroso, não me agradou na história. Ondina traiu o Comissário João com André,
Comissário ficou profundamente triste e chorou nos braços de Sem Medo. Após
esse fato Ondina se apaixona por Sem Medo. Essa parte da história, achei muito
previsível a maneira que a narrativa e os diálogos acontecem é perceptível tal
fato na história. O autor também mostrou o caráter duvidoso de Sem Medo ao se
relacionar com Ondina, pois Sem medo se colocava até como Pai do Comissário (João),
mas na oportunidade que teve não pensou duas vezes de ter um caso com a ex-noiva
ou noiva do Comissário, não respeitando assim a sua dor. Relacionamentos e caráteres
muito oco.
O tribalismo é relatado no livro
como um problema central na luta dos guerrilheiros, o tribalismo seria como um
bairrismo nos tempos modernos, onde há separação entre pequenos grupos que
atrapalham o desenvolvimento do movimento. Neste caso, o tribalismo apresentara
um problema crônico a ser enfrentado. E que a urbanização ainda que um processo
doloroso, teria o mérito de ir eliminando aos poucos o tribalismo. O que eu
gostei do personagem Sem Medo é que o tribalismo não o dominara. Mas o autor
mostra na história que na hora de pegar em armas e iniciar a guerra o povo se
unira e deixa de lado o tribalismo para lutar uns pelos outros.
Um fator que eu sempre tive
curiosidade de entender era o que se passa na cabeça de um revolucionário (revolucionário
intelectual), até porque eu não li as biografias dos grandes revolucionários [mas
fá-lo-ei], mas pude ter a sensação ainda de forma fictícia no diálogo entre Sem
Medo e Novo mundo, em que Sem medo prediz o que aconteceria com Mundo Novo com
a vitória e a consequência disso seria a fundação de um partido único, e que
chegaria um dia em que Angola não necessitaria de aparelhos rígidos (esse era
seu objetivo). Porém, viveria até esse ponto, nos trazendo a alusão de que as
mudanças levariam anos para ocorrer. Reforça mais adiante que o máximo que seu
grupo conseguiria chegar era ao socialismo e que o comunismo não seria
conquistado com ele em vida.
Foi uma leitura agradável, trouxe
pontos da revolução e da luta da libertação do povo oprimido que muito me
agrada. Por outro lado, como já mencionei, não gostei da maneira em que o
romance se desenrolou, sobrou leviandade entre os personagens e faltou
profundidade nos sentimentos. Outro detalhe que faltou, talvez isso aumentaria
o número de páginas, foi a descrição da fisionomia dos personagens. Uma
exigência superficial, porém que eu vou registrar, é que careceu de um
personagem com o nome de “Coragem” talvez isso estava em Lutamos, mas a coragem
seria praticamente a oposição ao Sem Medo. Porque um ser que tem coragem tem
medo e este o supera.
Sem Medo era o Ogun, mas não era
o Prometeu africano.
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