Com Jules Verne, a Ficção Científica se havia tornado popular e vendável, mas faltava ainda ao gênero alguém que a "elevasse" à "alta literatura", alguém que conseguisse fazer o gênero acessar a Academie Française, alguém que conseguisse fazer a Ficção científica alçar-se ao nível do Prêmio Nobel de Literatura. Faltava ao mundo H. G. Wells!
Comunista declarado, Herbert George Wells percebe na Ficção Científica uma porta a ser ainda aberta, e utiliza os recursos disponibilizados pelo gênero de uma maneira única. Enquanto ainda mantendo-se fiel às premissas da extrapolação do possível e do provável e apresentando conceitos exagerados de científico, Wells utilizou de sua escrita para olhar para a sociedade e criticar a maneira como ela se organizava. Dois frutos nasceram de seu labor; dois subgêneros igualmente importantes para a compreensão da Ficção Científica: O futurismo, do qual falaremos em uma postagem vindoura, e as distopias, tópico do qual falaremos hoje.
Enquanto havia na essência dos escritos de H. G. Wells uma certa esperança de que a tecnologia nos auxiliaria no galgar novas etapas do avanço humano, havia também um alerta de que se a mudança não viesse, a tecnologia apenas serviria para potencializar os problemas já presentes em nossa sociedade.
Em A Máquina do Tempo, Wells nos apresenta a ideia de um viajante no tempo que, ao explorar o futuro, descobre a humanidade tendo se dividido em duas novas espécies: os altivos e quase feéricos Eloi, que vivem à superfície do mundo, livres das amarras do trabalho e com seu sustento assegurado pelo constante trabalho da outra raça, os Morlocks, que, por sua vez, vivem sob a superfície do mundo, operando o maquinário e realizando o trabalho pesado dessa sociedade. Enquanto os Eloi tem feições altivas e elegantes, os Morlocks são brutos, seus corpos adaptados ao trabalho pesado e exaustivo, seus olhos adaptados à escuridão das profundezas. Nessa sociedade apresentada por Wells, nas noites sem luar os Morlocks sobem à superfície para caçar e devorar os Eloi, que tiveram seu intelecto reduzido a uma quase infantilidade pela indulgência ao lazer.
A alegoria óbvia da degeneração da alta classe tornando-se os Eloi e da degeneração do proletariado tornando-se os Morlocks é a maneira do autor questionar a estrutura social dentro da qual vivia, conceito que estabeleceria as bases fundamentais da Distopia.
Não ironicamente, o subgênero da distopia encontraria seus grandes avanços nos maiores períodos de crise da humanidade, onde mais haveria a ser questionado. Talvez por isso um dos maiores títulos do gênero surja no final da década de 40.
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