Na Parte 02 dessa série falamos sobre como H. G. Wells permitiu que a Ficção Científica alcançasse os altos círculos e se permitisse ver como um gênero literário nobre, mas houveram também aqueles que trabalhassem a popularização do gênero e tentassem deixá-lo mais comercial. Mais do que isso, talvez, a postagem de hoje serve para falar um pouco sobre como se inicia a americanização do gênero.
Mal... Se inicia mal.
Estamos na década de 20: A confecção do papel de 'pasta de madeira' ("pulp") havia recém se aperfeiçoado, as prensas à vapor haviam se popularizado na cena americana, a educação massificada garantia uma parcela majoritária da população letrada e a vasta oferta de autores praticamente garantia que não haveria demanda para tudo que tentava encontrar o mercado. Entra em cena Hugo Gernsback, um homem que ouviu que suas ideias não tinham como dar certo, mas não se deixando abalar pela opinião alheia, provou a todos... Que elas dariam errado mesmo!
Há duas maneiras para se olhar para o legado de Gernsback:
Por um lado, ele foi a pessoa que nos deu o termo "Ficção Científica", até então chamado Cientificção; ele foi a pessoa que revelou ao mundo a existência de Isaac Asimov, Arthur C. Clark, Robert Heinlein, ele foi o criador de um modo de editoração e publicação que teria uma importância histórica ímpar não só para a Ficção Científica, mas para todos os gêneros literários que se iriam repopularizar no século XX. Ele foi o criador das Obras de Revista (lembra dos folhetins brasileiros que sua professora de literatura te ensinou que existiam no Brasil na década de 40? Então, adivinha de onde veio a ideia). Sem Gernsback, A ficção científica, o horror e o romance policial jamais teriam sobrevivido às revoluções tecnológicas que o século veria. O prêmio Hugo de Ficção tem o nome dele até hoje por toda a contribuição dele.
Por outro lado, Hugo Gernsback também criou muitas das práticas editoriais abusivas que perduram até hoje, era notório por "esquecer-se" de pagar seus autores (o debate sobre se isso era causado por mau-caratismo ou incompetência perdura até dias atuais), além de ser o responsável por estabelecer que "mulheres seminuas em situação pré, in media ou pós captura vendem mais capa de revista, portanto histórias que apresentem isso merecem mais capa" e nos dar o clichê narrativo da mulher indefesa na Ficção... Pois é... O cara era complicado.
Independente de se por incompetência, ambição ou simples desleixo, assim que o modelo estabelecido por Gernsback foi adotado por outros menos... Bem, menos o que quer que você tenha optado em assumir que fosse a causa das posturas do cara... os escritores insatisfeitos começaram a migrar para as novas revistas e folhetins, e assim temos títulos como Weird Tales popularizando autores como H. P. Lovecraft (Cthullhu - um cara complicado que merece sua própria discussão) e Robert. E. Howard (Conan).
Importante também mencionar que ao falar sobre o que ficaria conhecido como Ficção Pulp, é impossível dissociar os gêneros da Ficção Científica, Horror e Mistério; os três gêneros se tornaram tão entretecidos durante esse período que é comum se encontrar grandes autores que figurem em dois ou três deles, à exemplo dos supracitados Lovecraft e Howard, que apesar de terem se consolidados como autores de outros gêneros, tiveram seus contos de Ficção Científica publicados nessa época.
Mas houve um nome em especial que pegaria o modelo criado por Gernsback e o daria forma melhorada, um homem que, apesar de ter publicado livros, fulgura como um dos maiores nomes no hall da Ficção Científica não pelas suas obras, mas por sua editoração. Senhoras e senhores, entra em cena aquele que ficaria conhecido como o maior editor de Ficção Científica que a América já viu...
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