Se você acha que as maiores discussões sobre Star Wars estão relacionadas à Ray e sua história na nova trilogia, você certamente nunca viu um grupo de Nerds e aficionados por literatura debatendo sobre qual o gênero literário de Star Wars. Como enfim chegamos à década de 80, não podemos ignorar esse debate.
De um lado, o argumento de que a presença de elementos futuristas como naves espaciais e lasers fazem de Star Wars uma série de filmes de Ficção Científica, de outro, o argumento de que um sistema de magia "hard" e o aspecto mais mítico e mitológico fazem da série Fantasia. Ambos os argumentos, ao meu ver, são igualmente válidos, ainda que se minha opinião pessoal fosse consultada, eu diria que Star Wars cai mais para o lado da fantasia.
O ponto importante aqui, entretanto, não é o gênero de Star Wars, mas o valor que Star Wars teve para a Ficção Científica. Nesse sentido, duas afirmações são igualmente reais e igualmente válidas: "Star Wars foi a melhor coisa que aconteceu na história recente da Ficção Científica" e "Star Wars foi a pior coisa que aconteceu na história recente da Ficção Científica".
Eu explico: enquanto Star Wars trouxe uma popularidade para a Ficção Científica que o gênero nunca havia tido até então (mesmo que se queira argumentar que ele não é Ficção Científica, as pessoas o entendiam como tal), o que fez com que muito dinheiro fosse investido na produção de obras de Ficção Científica... Bom... Ao menos na produção de obras de Ficção Científica que parecessem Star Wars.
A inundação do mercado remontava aos dias do Pulp, de obras "fáceis" e "digestas", sem grandes questionamentos, de narrativas simples e diretas. A verdade é que a inundação editorial pós-Star Wars matou o New Wave. Onde um movimento morre, entretanto, há espaço para que outros surjam. Entra em cena William Gibson.
Gibson viera e era herdeiro do movimento de contracultura, de forma que a ideia de uma literatura simples e sem profundidade lhe desagradava profundamente. Diria ele sobre os autores de Ficção da época: "Eles sabem exatamente de onde vieram, para onde estão indo e como chegar lá; e estão errados em todos os três aspectos". Ele era apaixonado pela literatura de New Wave e queria resgatar o caráter questionador que ela tinha.
E novamente me vejo refém da falta de publicações de Sci-Fi no Brasil, pois acho que seria importante falarmos sobre Burning Chrome, sua primeira publicação, e a teoria literária que Gibson estabeleceria à partir dela. Ele definiu nesse livro de contos alguns dos preceitos para o movimento que viria depois dele e no qual ele próprio ingressaria.
Porque o New Wave estava morto, mas o Futurismo sobrevivia, e seria através dele que a Ficção Científica encontraria vazão para questionamentos mais profundos utilizando-se de um aliado poderoso, um aliado acostumado a questionar os estigmas sociais e confrontar o status quo. O movimento Punk chega à Ficção Científica!
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