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A Jornada do Herói (Parte 5 de 6): Uma Jornada Entre Linhas

Aqui, creio, chegamos ao ponto esperado para nós, leitores, vamos analisar a Jornada do Herói, que vem sendo apresentada nessa série, na literatura, em livros.

Mais especificamente nos livros que lemos no Clube Entre Linhas.

Então antes de começarmos deixo aqui o alerta, caso não tenha lido os livros (deixarei sempre seus títulos visíveis) pode optar por não ler sua análise, pois é difícil (mesmo que eu tente) não antecipar os acontecimentos da obra no momento de tentar demonstrar a Jornada do Herói nessas.

Uma árida jornada


Ao procurar a personagem do Herói em Vidas Secas de Graciliano Ramos eu tento um pouco fugir do óbvio e devaneio pensando se não seria a família uma personagem única, em sua jornada, com cada membro representando uma faceta psicológica desta personagem, mas, essa é uma leitura bastante pessoal, então parto para o esperado.

Fabiano é a personagem que mais se enquadra na Jornada, pesando principalmente nesta como um percurso de transformação, amadurecimentos. O percurso de Fabiano tem essas características, apesar de toda a família o acompanhar nos intempéries ele está ao centro das decisões e ações narradas.

Novamente não falaremos do Herói de “Capa e Espada”, mas da personagem que representa o percurso e o amadurecimento humano.

No primeiro ato, pensando em um mundo comum como um lugar de conforto creio que esse foi apresentado pelas lembranças das personagens sobre seu lar, antes da viagem, antes do livro começar, de “onde eles estavam vindo”.

A aventura na obra é a aventura da sobrevivência, manter-se e manter os seus vivos, assim o chamado para a Aventura acontece com a chegada da seca, da fome e do cansaço, mas pode ser pontual com a perspectiva de um novo emprego como boiadeiro para Fabiano.

A recusa do Chamado é discreta e psicológica, Fabiano precisa do trabalho, precisa alimentar a família, mas também tem a percepção de que será explorado, que, enquanto empregado, não conseguirá construir nada de fato.

Não há um encontro com o Mentor, pois o mentor viaja ao lado de Fabiano, Sinha Vitória se faz a voz de “sabedoria” para Fabiano e este não nega em lhe procurar quando necessário.

Em minha opinião o livro começa na travessia do primeiro limiar, ao atravessar o rio, quando Fabiano consegue o novo emprego a jornada tem início, e em vista ao que passaram, ele não pode voltar atrás. 

O restante da obra todo se passa no segundo ato, como é costumeiro, os conflitos, os testes, aliados e inimigos são apresentados tanto no mundo físico quanto no psicológico, do clima inóspito, passando pela cachaça e chegando a um Soldado Amarelo, Fabiano enfrenta uma sorte de mazelas e desafios apoiado principalmente na família, em baleia e poucos amigos (alguns apenas nas lembranças).

Nós sabemos que as coisas não vão bem e tem um presságio de piora com a aproximação da caverna oculta na alegoria do sacrifício da Baleia, até me questiono se este mesmo seria a última provocação, mas ainda restam desafios a serem vencidos por Fabiano.

Com a chegada e a possibilidade de vingança sobre o Soldado Amarelo creio que Fabiano passa por sua Provocação Suprema, resistir a agressão aquele que lhe fez mal, apenas pela possiblidade, retoma e reafirma a humanidade da personagem, que, creio, seja a própria Recompensa.

Então, como “o mundo coberto de penas” se inicia o terceiro ato e a intenção ao caminho de volta, eles não têm de certo um lar como bem mostrado, assim esse retorno é em busca do conforto, da segurança, de uma promessa de uma vida melhor. Vislumbrando a “cidade grande” Fabiano sente esperança, tem sua ressurreição e nesta mesma esperança está seu elixir.

Uma jornada na selva

Mayombe, Pepetela


Em Mayombe, de Pepetela, o autor traz uma personagem protagonista dúbia e já evoluída, no sentido de não obter crescimento durantes a obra. Me surpreendeu quando para mais da metade do livro eu me deparei com um herói, não um herói romântico, infalível e ilibado, mas uma personagem em processo de transformação, metamorfose, crescimento. Uma personagem com uma jornada de fato, João, o Comissário.

João é uma das poucas personagens principais que não se apresenta em pensamento, torna-se narrador apenas para findar a história, assim, mesmo tendo resquícios de seu passado pulverizados pelo livro eu vejo o seu mundo comum como a posição que ocupa na Guerrilha, seu cargo de “Segundo em Comando” é o que lhe traz conforto, e assim começa o primeiro ato.

Como João não é a personagem principal demora-se a perceber que sua jornada (mais psicológica) foi incluída na obra, o que eu achei muito inteligente, devo dizer, assim o chamado para a aventura também se demora. Creio que este momento tenha sido quando é mandado da base para a cidade, providenciar suprimento principalmente e, encontrar Ondina.

Atividade a qual, inclusive, ele reluta abertamente, a recusa do chamado é clara, pois ele entende que seria, naquele momento, mais útil na base do que realizando atividades mais “burocráticas” podemos dizer, inclusive sentindo culpa por poder estar com a mulher que ama enquanto os “camaradas” passam fome.

Seu mentor, Sem Medo, é a personagem mais explorada no livro, não me recordo se em algum momento é dito como se conhecerem, acho que sim, mas o encontro com o Mentor acontece anterior a história do livro, porém sua figura é a mais presente nessa.

Creio que a travessia do primeiro limiar para João também foi anterior ao livro, ao se apaixonar por Ondina, esse foi ao caminho sem volta que, de certa forma, se tornou estopim para a sua ida ao “mundo mágico”, para sair de sua zona de conforto.

Como se percebe, pela jornada do herói aqui não ser a jornada da personagem principal, seus passos, suas etapas, são distribuídas de forma sútil pela história, assim, o segundo ato, os conflitos, estão por toda obra.

Os testes, aliados e inimigos são apresentados logo de início, pois falamos de uma guerrilha, esses conceitos são claros, os aliados são aqueles que lutam ao meu lato, os inimigos os são literalmente, e os testes são apresentados pelo vigor da guerra. Além desses há as provocações mais sutis físicas e psicológicas. Para nosso herói ainda há o amor, a traição e os traidores.

Justamente ensandecido por essa traição João vai para a base com outros comportamentos e assumindo, mesmo que ainda infantil e deliberadamente, mais responsabilidades, principalmente em seu papel de liderança, creio que esse seja o momento em que se inicia a aproximação da caverna oculta.

A provocação suprema vem da morte do amigo, também traidor, mas ainda assim amigo, no campo de batalha, a recompensa certamente está em seu crescimento pela vivência. Como eu disse no início trata-se aqui de uma jornada mais psicológica, a jornada do amadurecimento.

O terceiro ato não é de fato mostrado, mas é explicado por toda obra, como o próprio Sem Medo prevê diversas vezes, estando mais maduro, João voltaria como um ótimo Comandante, talvez melhor que ele mesmo.

A ressurreição eu deixo ser narrada pelo próprio Herói:

Eu evoluo e construo uma nova pele. Há os que precisam de escrever para despir a pele que lhes não cabe já. Outros mudam de país. Outros de amante. Outros de nome ou de penteado. Eu perdi o amigo.

Evoluído João pode voltar ao seu mundo comum, a guerrilha, com este elixir.

Várias Jornadas Fantásticas

Elantris, Brandon Sanderson


Lendo o Romance de Fantasia Elantris, de Brandon Sanderson, é possível identificar o Herói, no sentido Romântico e Épico da palavra logo nas primeiras frases, e, de fato Raoden perpassa todo o caminho do herói de maneira didática.

Porém, eu creio que Elantris poderia ser dividido em três volumes, a história é guiada por três personagens principais, dois protagonistas e um antagonista obvio que será convertido.

Uma Jornada de um Herói

Elantris, Brandon Sanderson

1º Ato: Apresentação

Raoden é rapidamente apresentado, da descrição de pequenos hábitos nos primeiros parágrafos e então se descobre afetado pelo Shaod.

O Mundo Comum

Na verdade o lugar de conforto de Raoden é apresentado de maneira salpicada nos diálogos e recordações retratados por quase toda obra. Um jovem príncipe, político, porém, ideológico e ético dentro de suas crenças, amado por todos, talvez, menos por seu pai.

O chamado para a Aventura

A primeira cena do livro trata não apenas do chamado, mas de sua recusa inclusive. Radoen acorda com muito mais fome do normal, pois já se converteu em um Elantrino.

A Recusa do Chamado

Claro que ele tende a não acreditar em seu cruel destino, essa negação é certamente mais psicológica, não bem retratada, mas por todo percurso podemos compreende-la. Aqui também poderíamos dizer que seria a travessia do primeiro limiar, porém essa, creio, foi ainda mais gráfica.

A travessia do primeiro limiar

Mesmo sendo o Shaod uma maldição irreversível, até onde sabemos, o autor é ainda mais Ilustrativo, pois Raoden atravessa os portões de Elentris, cruza suas muralhas, de onde não poderia retornar, condenado a uma morte em vida. 

O encontro com o Mentor

Como todos os que passaram pelo Shaoden, o Príncipe poderia render-se a essa morte em vida, e ia por esse caminho, até encontras Galladon que, além de se tornar o seu maior aliado, se faz seu Mentor, enquanto a posição não é trocada pela evolução de Raoden. 

É graças as intervenções despropositadas de Galladon que Raoden segue a transformação no salvador.

2º Ato

Enquanto a ação fora de Elantris é basicamente política, dentro das muralhas as ações físicas são tão necessárias quanto as intelectuais e Raoden inicia um processo de reconstrução da comunidade Elantrina.

Teste, Aliados e Inimigos

Como de costume esses são distribuídos por toda a obra, sendo o primeiro aliado, e mentor, Galladon, seguidos de novos condenados até os ‘Lords de Elantris”, findando em sua própria Noiva. 

Os desafios são igualmente variados, a fome, a dor, a solidão, reconstruções, batalhas e enigmas mágicos. Nesta obra o “mundo mágico” é, de fato, mágico, sobrenatural.

Aproximação da Caverna Oculta

Um inimigo oculto se revela e devido a suas ações Raodem é fatalmente ferido, desistindo de sua morte em vida. Os aliados o levam, literalmente, por uma caverna oculta até o que seria seu destino definitivo.

Provocação Suprema

Ao contrário do esperado, o possível túmulo desperta Raodem, que finalmente consegue decifrar o Enigma que percorre praticamente toda obra e o leva a um eufórico despertar.

Recompensa

A recompensa vem de sua ação e da demonstração que ele estava certo, ele consegue recuperar a mágica do mundo, que estava literalmente quebrada.

3º Ato

Raoden agora pode voltar para o seu mundo comum, não é mais um amaldiçoado, ao contrário, mas antes precisa reencontrar sua noiva.

O Caminho de Volta

Ele parte para o caminho de volta e esse, embora vertiginosamente, é mostrado na obra, tendo início no “resgate” de sua esposa e culminando no casamento.

Ressurreição

Podemos dizer que dentro da lógica da obra, de sua proposta, Raoden literalmente ressuscita e como previsto na jornada, renovado, sendo agora o salvador.

Elixir

Um Salvador com todo o poder de Elantris e seus amados ao seu entorno.

Uma Jornada de uma Heroína

Elantris, Brandon Sanderson

1º Ato

Praticamente toda apresentação de Sarene é sendo feita durante a obra, em sua primeira aparição temos mais uma descrição física e, superficialmente, psicológica.

O Mundo Comum

Seu mundo comum é apresentado em descrições, lembranças e diálogos enquanto a trama se desenvolve.

O chamado para a Aventura

O chamado de Sarene acontece antes do livro e é apenas contado em suas lembranças, quando recebeu a proposta de casamento com Raoden.

A Recusa do Chamado

Fica claro que em um primeiro momento ela vacilou, por se tratar de um unicamente de um acordo político, mas vai cedendo quando conhece a personalidade de seu noivo.

A travessia do primeiro limiar

Assim que aceita o casamento Sarene não pode mais voltar, mesmo com o noivo morto, ela é obrigada a assumir suas responsabilidades segundo contrato, ainda há a representação oceânica deste limiar.

O encontro com o Mentor

Também não há um encontro com um único mentor, mas eu identifico vários mentores, na verdade dois, distribuídos em muitas personagens. Primeiro o seu Seon, que é uma espécie de consciência, principalmente quanto a costumes e comportamentos e o segundo o grupo de lordes ao qual se uni, cada um, em determinado momento, faz esse papel, o mais velho com sua sabedoria, o mais novo com sua perspicácia e assim por diante. Apesar de ela se colocar como líder do grupo o grupo a guia em sua jornada também.

2º Ato

Logo ao chegar ao seu destino e descobrir a “morte” de seu noivo podemos dizer que já começam as provocações.

Teste, Aliados e Inimigos

A exemplo de seu noivo, e de tantas outras obras, esses elementos se salpicam por toda a extensão do livro. Os aliados vão se apresentando, primeiro a familiares que reencontra, após um grupo de lordes, mais tarde seu próprio noivo. Igualmente os inimigos se apresentam e caem, ou convertem-se em aliados, um a um. O próprio sogro, sacerdotes, políticos, são postos quase sempre acompanhando os testes pelos quais ela deve passar.

Aproximação da Caverna Oculta

Incrivelmente aqui a aproximação da caverna oculta se dá em um momento de ressurreição simbólica na obra, quando é levada para sua terra natal, afim de vê-la ser conquistada.

Provocação Suprema

Enfrentar o verdadeiro inimigo que se mostra ao final é sua maior provação, afim de salvar a sua própria nação.

Recompensa

Aqui, Sarene, é recompensada com um amor Duplo, um triangulo amoroso discreto que se desenvolve durante a trama, e que é o que salva de fato sua terra natal.

3º Ato

O Caminho de Volta

Neste caso caminho é uma palavra literal, após voltar a terra natal, Sarene regressa ao mundo mágico, mas agora renovada pela batalha e vitória.

Ressurreição

Entre outras evoluções da personagem, conquistar o amor, factual, é uma das mais marcantes para a personagem, retornando completa por isso.

Elixir

Agora, além de esposa e heroína, rainha. 

Outra Jornada para a Heroína

Em diversos momentos Campbell faz menção que a Jornada do Herói Mitológico seria quase exclusivamente masculina.

De acordo com Ferreira (Ferreira, 2020), Campbell teria dito: 

As mulheres não precisam fazer a jornada. Em toda a viagem mitológica, a mulher está lá. Tudo o que ela tem a fazer é perceber que ela é o lugar para o qual as pessoas estão tentando chegar

O próprio Campbell (Campbell, 2020) faz colocações pontuando que a Jornada se faz menos necessária no universo Feminino para seu amadurecimento, pois esse seria marcado por fenómenos físicos diferentes do amadurecer Masculino, porém, também dá exemplos de Mitos Xamânico, muito semelhantes a Jornada de Sarene, onde a Noiva renega seu pretendente, colocando-se assim em um patamar além do “mundo comum” e uma busca acontece a partir daí por um parceiro que corresponda a essa nova realidade “mágica”.

Porém, Ferreira (Ferreira, 2020) afirma que a Jornada “para as mulheres contemporâneas, envolve a cura do feminino ferido que profundamente existe dentro dela e na cultura”. Assim propõe, ou demonstra, uma outra jornada, mais adequada, composta também por um ciclo.

“A separação do Feminino”, “Identificação com o Masculino”, “A estrada de Provações”, “Falsa Ilusão de Sucesso”, “O despertar do sentimento de aridez espiritual: morte”, “Iniciação e Descida a Deusa”, “Urgente Reconexão com o Feminino”, “Curando o conflito entre mãe e filha”, “Curando o Masculino Ferido” e “Integração do Masculino com o Feminino”. Chamado de “A Jornada Cíclica da Heroína de Maureen Murdock”.

Não creio que Sarene seja o melhor exemplo dessa jornada, nem mesmo eu o melhor para analisar por este ângulo, todavia vale perceber, já nos títulos que das etapas, superficialmente, que algumas delas são obvias na personagem.

Após a sua aparição, em determinado momento são contadas as suas desventuras românticas, que teriam levado Sarene a sentir-se inferiorizada, assim buscando uma aceitação, uma “Identificação com o Masculino”, no sentido de tornar-se mais adequada a essa visão, e se finda assumindo-se Mulher e fazendo a sua “Descida a Deusa” e a “Reconexão com o Feminino”, em sua própria aceitação, por fim chegando na personagem na “Integração do Masculino com o Feminino” claramente.

Ferreita (Ferreira, 2020) completa:

Diferente do herói, a heroína vive a dualidade de como a sociedade a vê e de quem ela realmente é dentro de si a partir de outros paradigmas.

Uma Jornada de uma Vilão

Elantris, Brandon Sanderson

Eu não sei se eu o faria apenas por minha percepção, mas sei que muitos me crucificariam caso eu não consider a jornada de Hrathen. Um anti-herói. Sua jornada é mais psicológica do que física, do ponto de vista que venho propondo, ele amadurece e desperta para uma nova crença ou percepção do mundo.

E como diz o próprio Campbell (Campbell, 2020): 

“Chamar alguém de herói ou monstro depende de onde se localize o foco da sua consciência.”

1º Ato

As três jornadas que estou retratando tem isso em comum, o mundo comum não está no livro, é salpicado entre lembranças e diálogos.

O Mundo Comum

Se pensarmos que o mundo comum de Hraten já é o mundo religioso, então este é apresentado em suas lembranças do mosteiro e conquistas anteriores, porém poderíamos considerar essa uma outra jornada, afinal ele teve uma jornada dentro da própria religião fjordenica.

O chamado para a Aventura

Deste ponto de vista o chamado também é explicado, Hraten é convocado para preparar a cidade para a invasão fjordenica.

A Recusa do Chamado

Porém, ele se recusa a todo custo que essa seja de forma violenta, então ele busca a conversão. Essa recusa do chamado, digamos sagrado, é a cerne da personagem durante toda obra.

O encontro com o Mentor

Não há um mentor físico para nosso vilão, mas sua consciência e a percepção de que sua fé não é assim tão solida vão guiando o seu caminho pela narrativa.

A travessia do primeiro limiar

Assim como Sarene, Hraten atravessa o primeiro limiar ao desembarcar, desenhado por um oceano e por sua missão.

2º Ato

As provocações se desenvolvem, como de costume, durante a obra.

Teste, Aliados e Inimigos

Os teste e inimigos são muitos para o sacerdote, aliados, porém, bem poucos, alguns antigos são citados na forma de prestadores de serviço e os novos acabam se mostrando o oposto.

Aproximação da Caverna Oculta

Ao descobrir que aquele que deveria ser seu inferior é na verdade seu superior, e além disso, a razão de seus pesadelos, Hraten vê-se ante a caverna, prestes ao seu maior desafio.

Provocação Suprema

Enfrentar os monges de sua religião e seu arqui-inimigo  certamente é a provação suprema de Hraten.

Recompensa

Enquanto saltar Sarene é sua recompensa, mesmo que lhe custe tudo.

3º Ato

O retorno neste caso é mais simbólico, talvez um retorno as suas verdadeiras convicções.

O Caminho de Volta

Esse caminho acontece quase durante toda a obra, culminando com o enfrentamento de seu arqui-inimigo e o salvamento de sua amada, que demonstram uma nova crença, uma renovação.

Ressurreição

Não há ressurreição física para o Sacerdote, porém simbólica, ele se refaz como ser em plenitude de suas convicções e isso o leva a eternidade como um Herói Trágico perpetuado.

Elixir

De vilão a herói, o verdadeiro herói dessa saga, de acordo com Sarene, esse reconhecimento é o seu elixir. 

Uma jornada no mundo real

Eu sou Malala, A História da garota que defendeu o direito à educação e foi baleada pelo Tablibã, Malala Yousafzai com Chistina Lamb


Como eu já coloquei em alguns dos posts dessa série, a Jornada do Herói, está presente em todas as histórias narradas, pois ela representa as jornadas humana, os mitos são representações de nossas jornadas.

Claro a vida real não acontece estruturada em uma proposta narrativa proposital, como a Jornada que venho propondo, porém, contar uma história humana, pode e, quase sempre, acaba utilizando a mesma estrutura também. 

Quando contamos as histórias reais, talvez, estejamos adicionando-as aos Mitos.

Em “Eu sou Malala” a própria Malala busca contar sua história com a ajuda de Christina Lamb, assim, mesmo sendo uma história real, ainda é uma narrativa e podemos observar a Jornada do Herói nesta.

O livro começa pelo final, eu diria que pelo segundo ato, a Provocação Suprema, já contando o dia em que a menina fora baleada.

Só então regressamos ao primeiro ato, o mundo comum de Malala é apresentado em detalhes, nos primeiros momentos do livro, e a possibilidade do impedimento de sua educação é o chamado da aventura, podemos ver vários momentos de hesitação, como a recusa do chamado, não apenas de Malala, mas de sua família, por tratar-se de uma criança o encontro com o Mentor está na própria família, no livro, principalmente o Pai.

Assim que Malala assume uma postura de ativista, e faz a sua primeira entrevista (para um documentário) ela chama atenção o suficiente para não poder retroceder, fazendo a travessia do primeiro limiar.

Os Teste, Aliados e Inimigos são apresentados aos montes durante o segundo ato, os últimos sendo pincipalmente os extremistas do Talibã, mas outros também aparecem, certamente a aproximação da caverna oculta vai sendo narrada lentamente, enquanto ameaças e a influência do Talibã seguem na sua região.

Como já disse a provocação suprema acontece quando ela é baleada e mostrada em todo o seu processo de recuperação, é difícil chamar de recompensa, pois creio que nada realmente recompense a sua perda e traumas, mas Malala após isso se torna um símbolo em prol do direito a educação a todas as mulheres, a todas as pessoas.

O terceiro ato, se dá em quase uma real ressurreição, a garota supera como possível as deficiências, mas o caminho de volta só acontece para a família e não para sua terra, onde não pretendem voltar em função do atentado. Malala se torna o próprio elixir de renovação na luta pela educação. 

Mesmo as histórias reais, quando narradas apresentam a jornada, ao menos seus elementos. Como disse Campbell (Campbell, 2020):

Isso, a saga do herói, a aventura de estar vivo.

Conclusão

Apenas neste post vimos a presença da Jornada do Herói, conforme venho propondo, em quatro livros de gêneros bastante distintos, inclusive uma bibliografia (a jornada na vida real).

Em todos eles observamos personagens que norteiam o desenvolvimento do texto, que são retiradas de sua zona de conforto para enfrentar desafios no desconhecido da trama e retornam renovados, transformados dessa jornada.

Fontes

CAMPBELL, JOSEPH. O PODER DO MITO: V A SAGA DO HEROI. Disponível em https://www.revistaartereal.com.br/wp-content/uploads/2014/02/A-SAGA-DO-HER%c3%93I-Joseph-Campbell.pdf. Acesado em 24.set.2020.

Ferreira, Nivia B.  Nesteriuk, Sergio. Rosa, Karla S. A jornada da heroína: outra abordagem da representação feminina nos games. Disponível em http://www.sbgames.org/sbgames2018/files/papers/ArtesDesignShort/187715.pdf. SBC – Proceedings of SBGames, 2018. Acessado em 07.set.2020.

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