Pular para o conteúdo principal

A História do Sci-Fi (Parte 8.5 de Alguns) - Star Wars, Ficção Científica e Fantasia

Em seu último artigo ADMC (ADMC, 2020) descreve uma possível confusão ou “amalgama”, se preferirem. Seria “Star Wars” uma obra de Ficção Científica ou uma obra de Fantasia. Confesso que como Fã da série não havia me feito esse questionamento, sempre aceitei o senso comum sobre ser Ficção Científica e a percepção “FÃnatica” de uma mistura de naves espaciais, magias e samurais com “espadas à laser” (não precisam me linchar, eu sei que são “Sabres de Luz”, mas também sei que “laser” é a sigla para “light amplification by stimulated emission of radiation”, ou “amplificação da luz por emissão estimulada de radiação” pense nisso antes de me xingar)

Enfim, o artigo “Revolução de 80! O Movimento Punk e, sim, Star Wars” (ADMC, 2020) me levou a uma das coisas que mais gosto, uma pergunta: Star Wars é uma obra de Ficção Científica ou de Fantasia?

"Até a recente, GRANDE REBELIÃO, os JEDI-BENDU eram os guerreiros mais temidos do universo. Durante cem mil anos, gerações de JEDI aperfeiçoaram sua arte como os guarda-costas pessoais do imperador. Foram os principais arquitetos da invencível FORÇA ESPACIAL IMPERIAL, que expandiu o IMPÉRIO por toda galáxia, desde o equador celeste até os mais longínquos confins da GRANDE FENDA.

Agora esses lendários guerreiros estão quase extintos. Um por um, foram caçados e destruídos como inimigos do NOVO IMPÉRIO por um feroz e sinistro grupo de guerreiros rivais, OS CAVALEIROS SITH"

Gosto mais das perguntas do que das respostas, mas posso dar alguns subsídios para essa reflexão e “que a força dos outros esteja com vocês!” (Rinzler, 2011-2013)

Em minha última análise, de Elantris (Almeida, 2020) eu fiz uma tentativa de definir o gênero de Fantasia.

Onde trago Monteiro (Monteiro, 2020) afirmando que "o fantástico pode ser definido primeiramente como um modo, uma categoria meta-histórica que enuncia o que é impossível, inverossímil ou irreal", mas "o que acontece no mundo fantástico obedece a uma lógica identificável e tranquilizadora, logo adquire a qualidade de <<possível>>".

E deste ponto de vista Monteiro (Monteiro, 2020) poderia estar facilmente descrevendo “Star Wars”, também Colin Manlove (em Modern Fantasy, 1975) define Fantasia como "uma ficção que suscite estranheza, e que contenha um princípio substancial e irredutível de mundos, seres ou objetos sobrenaturais ou impossíveis com os quais as personagens da história, ou os leitores, alcancem um certo grau de intimidade".

Se você não enxerga Star Wars nessa descrição talvez valha revisitar a obra.

Porém Monteiro (Monteiro, 2020), como eu disse, tentou diferenciar o Fantástico da Ficção Científica, ou vê-los como subgêneros intrínsecos, nesse processo ela afirma que "uma das características do dito género reside precisamente no seu hibridismo, na capacidade  de mudar de forma, de absorver, adaptar e integrar técnicas de outros géneros", o que quer dizer que  “Star Wars”, como outras obras, podem ser sim Fantasia e Ficção, ou Fantasia que absorveu a Ficção Científica para ser mais preciso. 

A própria autora (Monteiro, 2020) afirma que a distinção entre Fantasia e Ficção Cientifica é tênue e difusa, gerando inclusive definições de gêneros híbridos (Science Fantasy).

De acordo com sua analise a diferença, de fato, desses dois gêneros se dá na construção de seus mundos, na natureza destes, sendo o mundo de Fantasia realmente livre para o inexplicável, a magia pela simples magia não requer explicações lógicas ou bases na realidade, enquanto os mundos, cenários, da Ficção Científica (como diz o nome) partem de uma “extrapolação” do real, da sociedade, do conhecimento, da ciência (ou pseudociência) e da tecnologia. Por isso muitas vezes a Ficção Científica, parece se ater à visões do futuro.

Inclusive cita a autora: "não é possível escrever ficção científica sem alguns conhecimentos, mesmo que não muito avançados, de ciência e tecnologia."

Por fim, eu (Almeida, 2020) indiquei que a obra de Fantasia é aquela em que a Fantasia é o ponto central, em que a Trama gira em torno deste elemento fantástico necessariamente, seria isso que a diferencia de outros gêneros que apenas abrem mão do Fantástico, como elementos isolados.

Deste ponto de vista, em “Star Wars” os objetos e conceitos fantásticos são o ponto central da Obra, configurando-o como Fantasia? Ou seria “Star Wars” uma extrapolação social tecnológica do mundo real que trás alguns elementos de Fantasia, sendo assim Ficção Cientifica mesmo?

André (ADMC) aqui sequestrando brevemente o post e a reflexão do colega Almeida. Queria apenas trazer um pouco de contexto ao verdadeiro fogo-de-mato que é este debate. Para entendermos um pouco a argumentação dos dois lados, uma leve dosagem de contexto histórico é necessária:

Star Wars foi primeiro publicado em 1977, mas sua produção se iniciou em 1973, quando George Lucas começou a escrever seu roteiro. Como já vimos nessa série, o movimento New Wave da Ficção Científica foi um movimento setentista, de modo que ao olharmos para a Ficção Científica quando nos questionamos se o filme se enquadra no gênero, devemos olhar para a Ficção da Era de Ouro. Sob essa ótica, três premissas básicas podem ser utilizadas:

            1) O filme segue uma linha Asimoviana ao apresentar robôs e extrapolações das tecnologias conhecidas;

            2) O filme segue uma linha Heinleiniana ao apresentar um Império Espacial amplo e totalitário;

            3) O filme segue uma linha Clarkiana ao apresentar o místico e sobrenatural sob o aspecto de religiosidade.

É inegável que essas três falas sejam reais e aplicáveis ao filme e à série de filmes que dele se originaria, entretanto, ao nos questionarmos sobre gênero narrativo, a pergunta talvez esteja mais intimamente relacionada ao coração e à essência da história; nesse caso, talvez devamos nos perguntar se o filme não veste, simplesmente, uma roupagem de Ficção Científica.

Só que a única forma justa de olhar essa pergunta é olharmo-la sob ambas as lentes, e para isso, é essencial nos perguntarmos onde estavam as obras de fantasia àquela época. E, bem, se "A História do Sci Fi" que é uma série que analisa um gênero que nem bem chegou a dois séculos de vida ainda já está na parte 8, eu certamente não terei tempo de fazer a versão "A História da Fantasia" aqui, até porquê a primeira obra oficialmente catalogada como Fantasia e não Romance Fantástico foi escrita em 1610... E vocês não querem isso...

Portanto a versão extremamente resumida de "onde estava a fantasia em 1970" é "Tolkien"... Só que essa resposta não nos serve por um fator: Tolkien não começou a ser popularizado nos Estados Unidos até idos de 70, portanto, como fizemos com o New Wave, temos que descartar a "última novidade" e olhar onde estava a fantasia pré-Tolkieniana. E ela estava em um lugar chamado "Sword & Sorcery".

S&S é um subgênero da Fantasia que insere heróis combativos, normalmente com espadas em punho (daí o nome) auxiliados pelos elementos do místico e do sobrenatural (ehem, "A Força") e com muitas características emprestadas do romantismo. S&S também é famoso por usar eventos catastróficos em escala global como pano de fundo e eventos pessoais e íntimos como real força-motriz e conflito da história.

Como estou apenas sequestrando o tópico, vou só até aqui. Ainda deixarei vocês sem respostas, apenas com mais contexto sobre o qual refletir.

Como disse no começo deste texto, eu gosto mais de perguntas do que de repostas, então deixo para você, talvez responder, mas sem medo de errar, sem medo do fracasso, pois como disse Mestre Yoda: “O maior professor, o fracasso é.

Fontes

ADCM. A História do Sci-Fi (Parte 08 de Alguns) - Revolução de 80! O Movimento Punk e, sim, Star Wars!. Disponível em https://clubeentrelinhas.blogspot.com/2020/09/a-historia-do-sci-fi-parte-08-de-alguns.html. 18.set.2020. Acessado em 18.set.2020.

Almeida, Davi Fontebasso M. Elantris: Uma releitura da história mais velha do mundo em uma Necrópole Fantástica. Disponível em https://clubeentrelinhas.blogspot.com/2020/09/elantris-uma-releitura-da-historia-mais.html. 07.set.2020. Acessado em 18.set.2020.

Johnson, Rian. Star Wars Os Últimos Jedi. Cinecolor BR, 14.dez.2017.

Monteiro, Maria do Rosario. A afirmação do impossível. Jornal de Letras, Artes e Ideias. Disponível em https://run.unl.pt/bitstream/10362/16148/1/A%20Afirma%C3%A7%C3%A3o%20do%20imposs%C3%ADvel%20JL.pdf.  Portugal: 2005. Acessado em 18.set.2020.

Rinzler, J. W. Star Wars Legends - A Guerra Nas Estrelas - Volume 1. Panini Brasil Ltda. 2011-2013.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

A História do Sci Fi (Parte 01 de Alguns) - Um Filho com Dois Pais.

    Conforme as discussões no grupo sobre temas a serem debatidos chegaram à seara do Sci-fi, diversas pessoas manifestaram terem lido pouco ou nada do gênero, o quê além de algo que me deixa pessoalmente triste, é provavelmente mentira.      Bem, mentira não é a palavra certa para descrever, mas é decerto um engano, uma vez que coisas como Maze Runner e Jogos Vorazes entram nesse gênero. Foi sugerido que eu fizesse um "aulão resumo" sobre a história do Sci Fi, mas me ocorreu fazer algo que me permitisse discorrer um pouco mais, porque eu GOSTO DE FALAR... Erm, escrever... Enfim, me expressar.     Uma outra coisa sobre a qual fiquei pensando também foi sobre o modo como fazer isso. Vê, sendo professor, uma coisa que sempre me preocupou foi não fazer aulas entediantes e não cair na armadilha da tradicional aula "cospe-giz" (todo respeito aos professores que utilizam métodos mais tradicionais, só não é pra mim), então imaginei que uma simples explanação teórica seria

A História do Sci-Fi (Parte 10 de Alguns) - Notas, Desabafos e Adendos

     Ao longo dessa série, recomendei diversos livros que são historicamente importantes para a Ficção Científica e demonstram ou representam a epítome de um subgênero, movimento, ou época. Em pontos precisei me questionar sobre decisões de recomendações ou sugestões, então determinei para mim mesmo que selecionaria os livros baseados em sua relevância histórico-literária. Enquanto não me arrependo dessa decisão, confesso que ter me furtado a mencionar certos autores e livros deixou-me levemente frustrado, então me permitirei nessa postagem acrescer algumas recomendações de última hora que, apesar de não terem mudado um gênero, representado um movimento ou sido a epítome da escrita de um autor extremamente importante, são leituras que eu fortemente recomendo. "'Eu prefiro ser eu mesmo', ele disse. 'Eu mesmo e sórdido. Não outra pessoa, por alegre que seja.'"     Admirável Mundo Novo é um livro que se nem bem se encaixa no período inicial das Distopias, nem bem

Tudo o que você precisou aprender para virar um idiota

Meteoro Brasil. Esse livro é uma crítica ao livro do "filósofo" Olavo de Carvalho. Olavo, entitulado "filósofo", fez carreira como astrólogo e compartilha teorias no youtube, como marxismo cultural e células de fetos abortados na Pepsi. Escreveu "O Mínimo que Você Precisa Saber para Não Ser um Idiota", então o Meteoro escreveu o livro deles como uma paródia, ao mesmo tempo fazendo análises sobre o governo Bolsonaro e a influência do Olavo. That's it. (retirado de diálogos no grupo do Clube)